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NOSSA SENHORA DO CABO


Para quem não sabe, a Senhora do Cabo é uma santa que anda a passear pelo País. De 25 em 25 anos ela regressa e é um verdadeiro arraial. Verdade seja dita, a senhora viaja mais do que um presidente da republica. Nestas raras ocasiões, é comum os mais velhos voltarem à infância e fazerem dos mais novos uma brincadeira de bonecas. Vai dai, “mascaram” as pequenas e indefesas criaturas de apóstolos, de nossas senhoras, de romanos e outros manos, da famosa madalena e de todas as outras santas figuras que viveram lá para os lados

do Jordão. Há 25 anos atrás, mais coisa menos coisa, um certo jovem cristão,

e ainda por cima filho de uma foliona pura, iria vestir-se de São João baptista. Que maravilha. Roupas feitas de pele, sandálias que atavam da canela até

ao joelho, fita na cabeça e cajado na mão. Fantástico. Um Rambo primitivo.

Era tudo o que ele queria e ainda mais. E é por isso que até hoje, continua sem perceber, porque raios embirrou que naquele famigerado Agosto de 1985 iria

na procissão a acompanhar a viajante senhora, vestido de “jogador da bola”.

A lição? Neste nosso cantinho abençoado, ou se é Pessoa... ou se é Ronaldo!

 

For those who don’t know, Our Lady of Cabo is a saint who travels across the country. Every 25 years she returns to a big festivity. Truth be told, this Lady travels more than the President of the Republic. On these rare occasions, it is common for the elder to return to their childhood, making a child’s play out of the younger. For that, they dress up those little defenceless creatures as apostles, our ladies, Romans and other “’mans”, the famous Magdalena and every other holy figure who lived by the Jordan. 25 years ago, more or less, a certain young Christian, son a pure cheerful woman at that, was to dress up as St. John the Baptist. What a joy. Clothes made of fur, sandals fastened from the shin up to the knee, a head band and a staff. Fantastic. A primitive Rambo. It was everything he wanted and more. And that is why, to this day, he still doesn’t understand why on earth he decided in that fateful August of 1985 he would go on the procession accompanying the travelling lady dressed up as “a football player”. The lesson? In this blessed corner, you are either Pessoa… or you are Ronaldo!

 

 

COLUNAS DO ALCÂNTARA


As famosas colunas do não menos famoso Alcântara. Míticas. Mítico. Quem não conheceu, de certeza que já ouviu falar. Memoráveis noites em que se bebia

e pedia copos por debaixo de grandes mini saias embaladas ao som do stunk stunk stunk...!!! A mais incontornável de todas, a noite em que doze adolescentes acabadinhos de se sagrarem campeões europeus de futebol, resolveram fugir

da concentração (ou abandonar “temporariamente”) para festejarem o feito conseguido à poucos dias de uma forma, digamos, atrevida. Até hoje, ninguém recorreu da paternidade da ideia. Verdade verdadinha, nem sequer um se cortou a tamanha aventura. Nessa 5ª feira de 1996, esses doze jovens rapazes acabadinhos de prestar um “grande serviço ao País” (palavra de Guterres), deixaram o silêncio da noite vingar, vestiram a melhor roupinha que tinham, puseram gel no cabelo como um bom jogador da bola, e, um por um, saltaram

a vedação de vidro da unidade hoteleira onde se encontravam. Chamaram

3 táxis e lá foram todos empolgados, entusiasmados e marados. Tal e qual

12 apóstolos, embarcaram numa peregrinação em direcção à terra proibida:

A noite de Lisboa. Deram-se autógrafos, portas abriram-se e copos voaram goela abaixo. No País dos 3 “efes”, eram 12 caras acabadinhas de se tornarem mini heróis nacionais. Alcoolicamente falando, acabaram acabados nas colunas

do Alcântara. Ai se elas falassem!! Quem já assistiu a uma ressaca colectiva de 12 adolescentes? E quem já assistiu a uma ressaca colectiva de 12 adolescentes perante um membro de um governo? E quem já assistiu a uma ressaca colectiva de 12 adolescentes perante um membro de um governo e com a imprensa toda presente? Hilariante. Era ver secretárias, assistentes e há quem diga que até

o próprio do ministro, a ir buscar torradas e cházinho para dar cabo do enjoo

dos meninos. A lição? Melhor do que tornar a saltar vedações de vidro às 5h

da manhã com os copos, só mesmo estar bêbado no dia seguinte perante

o Ministro do Desporto.

 

The famous columns of the no less famous Alcântara. Mythical. Whoever hasn’t seen them certainly has heard about them. Memorable drinking nights where you would ask the beverages from underneath the big mini-skirts rocking to the sound of the stunk stunk stunk...!!! The most essential

of them all, the night in which twelve teenagers, fresh off becoming European football champions, decided to sneak out of the concentration (or “temporarily” abandon it) to celebrate their feat achieved a few days earlier in a, shall we say, cheeky manner.. To this day, no one has assumed the “authorship” of this idea. Truth be told, not even one of them lost the chance for such an adventure.

On that Thursday in 1996, those twelve young men, fresh off rendering “a big service to the Country” (Guterres’ words), let the still of the night prevail, dressed up their finest clothing, passed the hair gel like any good football player and, one by one, jumped over the glass fencing of their hotel unit.

They called 3 taxis and away they went, infatuated, excited and wild. Like the 12 Apostles, they boarded on a pilgrimage towards the forbidden land: nightime Lisbon. Autographs were signed, doors were opened and drinks flew down their throats. On the country of the 3 “F”, they were 12 faces fresh on their way to becoming mini national heroes. Alcoholically speaking, they ended finishing by the Alcântara columns. If only they could talk! Who ever saw a collective hangover of 12 teenagers before a government member and with the entire media assembled? Hilarious. You could see the secretaries, assistants and, some say, the minister himself, grasping toasts and tea to put an end the boys’ sickness. The lesson? Better than jumping a fence at 5 a.m. drunk, only being drunk the day after before the Minister of Sports.

 

A SOPAS E O ESQUILO


A Sopas, era uma gata absolutamente única. Uma verdadeira senhora.

Com ela, podia-se aprender a arte feminina da sedução ou a encantadora manha do “implícito” (expressão, emoção e acção, unicamente ao alcance do sexo feminino)... Tal e qual uma grande mulher, a querida e adorada Sopas, adorava deixar questões no ar com aquelas expressão tão inexplicáveis quanto óbvias: “Não estás a ver que a minha brita já está a cheirar mal” ou “abre a janela se faz favor que eu quero ir à rua” ou a melhor de todas: “gosto de dormir em cima

da tua cabeça, e depois... qual é o problema?”... Momentos únicos de uma verdadeira duquesa do lar. Quem mandava lá em casa, como em qualquer casa deste nosso mundo, era ela. Naquela casa, a dona tinha nome de comida

e chamava-se Sopas. E como uma verdadeira mulher, não gostava lá muito

que alguém entrasse no seu território. Ainda para mais, alguém não humano,

que viesse dentro de uma gaiola estilo “mansão”, tivesse um focinho e uma cauda e só parasse quieto para comer e dormir. A sua reacção a tal ousadia,

foi impressionante. Comportou-se que num uma lady. Impávida, observadora, serena. Quem tem confiança em si, não deve temer os outros. Encantados

os humanos com tal comportamento cívico perante mais um inclino. E como aquilo havia coleira, trela e tudo para o dito cujo e perante tal lição de humildade da madame, mas não sem antes de a trancar no quarto (“just in case”)... foi com total segurança que se pensou em levar o esquilo à rua. Erro. Já alguém tentou apanhar um esquilo à mão? Para alem da velocidade, das unhas e claro, dos famosos dentes, o rapaz não tinha lá muita vontade. Paciência. Fica a conhecer os cantos à casa. Até aqui, tudo bem. E continuaria, se mal viessem da rua não tivessem ido direito ao quarto fazer sabe lá o autor o quê. Saiu disparada como um grande felino em direcção à sala onde o esquilo se tinha refugiado. Por entre móveis, sofás, miaus e guinchos, perseguiu o esquilo tal e qual uma chita persegue a sua presa na savana. E de repente, silêncio. Pelos escombros saiu

a terrível Sopas com o esquilo ainda vivo na boca. Com o mesmo olhar tranquilo e terno, chegou-se assim bem juntinho e calmamente trincou o pobre bicho até todos os ossinhos se estalarem. Uma vida que se foi. Imagina-se os pensamentos assassinos que lhe deviam ocorrer nas horas que passou a olhar para o pobre coitado. Quantas maneiras ela terá encontrado de o despedaçar? Com a mesma assombrosa calma, colocou-o gentilmente no chão, e saiu da sala com a sua ginga de gata sedutora. Sentou-se à janela onde o sol mais brilhava, abriu a boca ensonada e encostou-se para uma sesta. Dia agitado aquele? Que nada. Tinha tudo planeado. A lição? Quem manda são elas (e homem que afirmar o contrario está a mentir ou então anda obviamente enganado).

 

“Soups” was an absolutely unique cat. A true lady. With her you could learn the female art of seduction or the charming chicanery of the “implicit” (expressions, emotions and actions, exclusive only to female gender)… Like any great woman, the dear and beloved Soups loved to leave questionsunanswered, with those expressions being inexplicable yet obvious: “Can’t you see my sand stinks?” or “please open the window, I want to go out” or the best of them all: “I love sleeping

on top of your head and then… what is the problem?”… Unique moments from a true home duchess. She was the one who ruled the house, just like any other house in this world of ours. On that house,

the owner had a name of a dish and her name was Soups. And like a real woman, she wasn’t too fond of anyone who entered her territory. Let alone, someone not human, who came in inside a “mansion” style cage, had a snout and a tail and could only stay still to eat and sleep. Her reaction to such audacity was impressive. She behaved just like a lady, standing idly, watchful, serene. Whoever trusts themself should not fear others. The humans were charmed by such civil behaviour before their new tenant. And because there was a collar, a leash and everything else for the said tenant, as well as madam’s lesson on humility, but not before locking her in the room (just in case)… it was safe to think about taking the squirrel out. Big mistake. Has anyone try to catch a squirrel by hand? Beyond their speed, claws, and, of course, their famous teeth, it didn’t have much patience. Too bad. Stay and get to know the way around the house. So far, so good. And it would stay like that if right after coming from home they had gone to the room to do the author knows what. She came roaring out, like a big feline, towards the room where the squirrel had sought refuge. In between furniture, sofas, meows and squeaks, she chased down the squirrel, just like a cheetah chases its prey in the Savannah.

And suddenly, silence. From between the rubble, the terrible Soups came out, with the squirrel still alive in her mouth. With the same calm, tender look, she came closer and calmly bit the poor creature until all its little bones had shattered. A little life gone. One can imagine the murderous thoughts that must have gone through her mind in the hours spent looking at the poor dear. How many ways did she concoct to crush him? With the same astonishing calmness, she gently put it on the floor and left the room with the swagger of a seductive cat. She sat by the window where the sun shone brightest, opened her sleepy mouth and leant over for a nap. A busy day for her? Surely not. She had everything planned. The lesson? It’s the women who are in charge (and the man who says otherwise is either lying or is blatantly unaware).
 

 

O NOSSO PRIMEIRO CARRO É A NOSSA PRIMEIRA CASA


É indiscutível: O nosso primeiro carro é sempre a nossa primeira casa.
Até à primeira relação dita “séria”, os adolescentes entretêm-se com beijinhos

e mãos dadas. Curtições nocturnas, encontros casuais e experimentais. Os mais afoitos e abertos, se calhar e sem vivalma saber, até entram numas rebaldarias

e mais umas coisas acabadas em “ias”. Mas, com a idade vem a maturidade,

e quer seja pela pressão social, quer seja pela necessidade humana de equilibrar emoções e sensações, a tal primeira relação “séria”, normalmente,

é a primeira relação “sexual” séria. Pára-se aqui para apostar todo o dinheiro do mundo que ao recordar essa relação, de certeza que havia um carro à mão!
Basicamente, são noites e noites passadas em carros que são feitos para andar, mas que naqueles tempos, também são feitos para amar. Estraga-se roupa com os “amassos”, mas explora-se a libido que nem grandes devassos. Evita-se

os desconfortos dos “acordares” matinais (logo a seguir desmacarados pelas “pensões vieiras “e uns fins-de-semana passados nas beiras), mas escreve-se histórias dignas de figurar nos anais (sim, diz-se “anais” e não se está a tentar fazer piada com isso)... É verdadeiramente digno de registo os esforços para evitar o inflexível travão de mão, ou lidar com a inconveniente “manete” das mudanças. Ó quantos climas esfriados (ou quem sabe mais arrojados) à conta desses dois endiabrados. E nunca jamais em tempo algum, esquecer as noites que GNR´s depravados quase apanham os jovens nus e descuidados.

E os clássicos e reveladores vidros embaciados? Ó tantas histórias já contaram escritas pelos dedos dos amantes apaixonados. A lição? É uma grande assoalhada de amor, o nosso primeiro pequeno T1 com rodas e motor.

 

It is indisputable: our first car is always our first house. Until the first “serious” relationship, teenagers entertain themselves with kissing and walking hand in hand. Nightly make-outs, casual and experimental encounters. Those more dashing and open, probably without anyone knowing,

get into some brouhaha and then some. But with age comes maturity, and be it due to social pressure or a human need to balance emotions and sensations, that first “serious” relationship is also the first “sexually serious” relationship. We stop here to bet all the money in the world that, when recalling that relationship, there was surely a car involved! Basically, it’s the nights and nights spent in cars built

to move around, but in those times are also built for loving. Clothes are spoiled with the “rubbing”,

but libido is explored as if we were fornicators. We avoid the uncomforting of morning awakes (to be swiftly unmasked by “pensões vieiras” and some weekends spent in the Beiras), but histories worthy of figuring in the annals are written (yes, it is said “annals” and that isn’t a pun)… The efforts made

to avoid the inflexible handbrake, or dealing with the inconvenient shifting gears stick are truly noteworthy. How many cool climates (or, who knows, bolder) because of those two bewitched.

And never ever forget those nights when the depraved National Republican Guards almost caught

the naked and careless youngsters. And the classic and revealing hazy glasses? Oh how many stories they have already told, written by the passionate lovers. The lesson? It is a great love room, our first little wheeled and motored T1.

 

ADVERTISING PEOPLE


Dizem que todas as grandes histórias começam com “boy meets girl”.

Pois então, naquele solarengo dia de Janeiro, a história nunca mais iria ser

a mesma. Um “ex-futuro tudo” entrou no elevador em direcção ao 14º andar,

e foram na verdade, uns olhos mais azuis que o céu e um sorriso mais branco que a neve, que lhe deram as boas vindas. Ela e mais uns quantos seres mágicos que por lá andavam. O rapaz descobriu a sua paixão. Uma espécie rara que deambula pelas grandes metrópoles. Urbanos por natureza, distintos com toda a certeza. Artistas, deslocados, proscritos. Os que são diferentes em todo

o lado menos quando estão entre eles. Únicos. Memoráveis. Enfadonhos.

Reis dos seus reinos. Vivem num mundo muito próprio. O deles. Na sua pequena bolha de mimos e achismos. Advogados do diabo. Vendedores da banha

da cobra. “Cisnes” como já os chamaram. Falam por siglas e estrangeirismos. Falam de tudo e muitos não dizem nada. Sabem tudo e muitos não sabem nada. Enterteiners, actores, artistas, palhaços. Directores por dá cá aquela palha. Idiotas. Atentos aos pormenores, a mupis e os únicos que ligam ao packshot. Aliás, os únicos que sabem o que é um packshot. Cada festa é um desfile.

Não de roupa, mas de egos. O meu é melhor que o teu. A minha é a melhor

que a tua (entenda-se prémios e ideias)... Advertising people, assim se chamam. “meio estranhos”, assim foram chamados pela primeira vez. E foi amor à primeira vista. A lição? Vive a vida ao segundo porque um segundo são 24 frames,

e em 24 frames, muita coisa pode acontecer.

 

They say every great story starts with “boy meets girl”. So, on that sunny January day, history would never be the same. A “ex-future-anything” got into the lift heading to the 14th floor, and in reality,

it was a pair of eyes bluer than the sky and a smile whiter than snow that welcomed him. She and

a few more magical beings walking around there, which welcomed him. The boy discovered his passion. A rare species wandering around the great metropolis. Urban by nature, distinguished for sure. Artists, dislocated, outcaste. Those different everywhere they go but when they’re together. Unique. Memorable. Boring. Rulers of their own kingdoms. They live in their own unique world.

Their own. On their own bubble of pampering and “deemings”. Devil’s advocates. Scammers. “Swans” as they were once called. They talk in abbreviations and foreignisms. They talk about everything but many don’t say anything. They know everything but many don’t know anything. Entertainers, actors, artists, clowns. Directors just because. Idiots. Attentive to detail, to the “mupis” and the only ones to care about the packshot. In fact, the only ones who even know what a packshot is. Each party

is a parade. Not of clothing, but of egos. Mine is better than yours. Mine is better than yours (prizes and ideas, of course)… Advertising people, they were called. “Kind of strange” they were once called. And it was love at first sight. The lesson? Live life to the second, as each second is 24 frames,

and in 24 frames there is so much that can happen.

 

 

O CARNAVAL DO MELRO

 

Nem todas as histórias de Carnaval são de samba e palhaçadas. Há umas

de tiros e vidas desgraçadas. Sim, era normal naquela aldeia depois dos bailes dançados ao som do amigo “Charlie Brown”, as madrugas serem invadidas pelos sons de caçadeiras e parvalheiras. Escolhidinhos a dedo, os alvos seriam normalmente molhados com água, sujos com ovos e farinha, e muitas vezes impedidos de sair da própria casa. Aliás, era única razão pela qual os senhores da GNR visitavam a pacata aldeia. Sempre meio a medo, coitados, não era

de peito aberto que se enfrentava 50 mascarados. Naquele ano, o “gang do carnaval” resolveu ter uma abordagem mais pacifica. Untou-se carros com bosta de vaca, subiu-se ao sino da igreja para terror dos mais antigos, desviou-se carros abandonados e quase que se fechou a água da aldeia (sugestão dada pelos senhor guarda-nocturno na tentativa que não se chateasse a vida dos aldeões)... Tudo correu lindamente, sem os tão recorrentes incidentes. Centenas de vasos decoravam o parque infantil, alguns carros abandonados brilhavam

no stand improvisado, bonecos de areia feitos de roupa que algum imprudente deixara no estendal recebiam os foliões. Era de facto um fartote. Na última madrugada de Carnaval e com o sol quase a dizer bom dia, alguém do grupo gritou: “para fechar em beleza, e se acabássemos com o Melro”...!! O Melro

era um solitário homem de aldeia. Um tipo alto e rude. De poucas falas e muitos tiros. Gostava de vir “brincar” de espingarda em punho. A prudência nesse ano levou a não se chatear muito o senhor, excepto... naquele último momento. Tudo planeado. Uns agarram na porta, outros batem nas janelas, o resto chama

por ele. Mas naquela noite de Fevereiro, em vez do clássico “Oh Melro, anda brincar com a gente” e antes sequer de alguém bater à porta do senhor, ouviu-se os mais longos tiros de caçadeira seguidos pelos passos acelerados da fuga desenfreada. Acordado com a arma em punho, tinha estado cinco dias à espera pacientemente que alguém se lembrasse de “brincar” com ele. Custou parte

da visão e 3 dedos para contar a história mais tristes de uma época tão feliz.

A lição? O Carnaval para o mundo inteiro são 3 dias, excepto para quem

o carrega a vida inteira.

 

Not all Carnival stories are of samba and clowning around. There are some of shots and disgraced lives. Yes, it was normal in that village after the balls danced to the sound of the friend “Charlie Brown”, the early mornings be invaded by the sounds of shotguns and the provincial lands. Hand-picked,

the targets would usually be sprayed with water, soiled with eggs and flour, and many times prevented from leaving their own house. In fact, that was the only reason for the gentleman from the Portuguese Republican Guard to visit the peaceful village. Always a little scared, poor them, you wouldn’t dare face 50 masked man with open arms. That year, the “Carnival gang” decided to adopt a more peaceful approach. Cars were greased with cow dung, the church bell tower was climbed,

to the horror of the elder, some abandoned cars were moved around and the village’s water supply was nearly cut off (on suggestion of the night guard, attempting to not disturb the villager’s life)… Everything went beautifully, without a recurrance of such incidents. Hundreds of pots decorated the children’s playground, some abandoned cars shining on the improvised auto dealer, sand dummies made of clothing that someone had recklessy left on the drying rack were receiving the revelers. It was a plentiful sight indeed. At the last dawn of the Carnival, almost with the sun saluting, someone from the group shouted “to finish nicely, what if we finished off the “Blackbird”…!! The Blackbird was

a lonely man from the village. A tall and rude bloke. One of few words and many shots. He loved

to come out and “play” with his shotgun in hand. The caution that year led them not to bother much that man, safe… for that final moment. Everything was planned. Some would grab the door, others hit windows, the remainder would call him out. But on that February night, rather than the classic “Blackbird, come and play with us” and even before anyone had rapped that man’s door, the longest shotgun blasts were heard, followed by the rapid pace of the unbridled escape. Awoken with gun

in hand, he had spent five days patiently waiting that someone would “play” with him.

It cost part of the sight and three fingers to count the saddest story of such a joyful season.

The lesson? Carnival is three days for the whole world, save for those who bear it for a full lifetime.

 

A IDADE DOS PORQUÊS

 

7? 18? 33? E em que língua ela nos fala? Português? Inglês? Francês? Não.

A idade, é como a vida, poliglota. Fala vidês. Todos os dias fala com as mais variadas línguas. Simplesmente não se cala. Desafia todo o santo dia com “porquês” que nem ela sabe porquê. Dia após dia. Mês após mês. Ano após ano. É ao segundo. Intemporal. Contínua. A idade, é o melhor que a idade tem. Existe para ser vivida. Para ser celebrada. E nós, o que fazemos? Nós, passamos

os dias “a dormir”. Cegos, surdos, mudos e “burros”. Entugados e iIletrados como se tivéssemos parados na idade média. Sim há aqueles dias cinzentos em que parece que o sol já não brilha, mas lá em cima, ele nunca pára de brilhar.

É por isso incompreensível o valor dado ao tempo. O valor dado à idade.

Quanto mais ela cresce mais ela mexe. Conquista-nos com as suas rugas, com as “suas histórias contadas em linhas que nos marcam o rosto” e aura. Torna-nos sábios. Ela não quer ficar velha nunca, quer ser criança como um picasso,

e andar pela vida passo, atrás de passo. Cansadinha de blá blá blá... Mais acção e menos canção. A do bandido e do adido. Cala-te e ouve...!! Está atento.

Abre os olhos. Ai ai... já não tenho idade para isto, diz a idade todos os dias.

Qual é então a idade dos porquês? Não interessa a idade, interessa a nossa verdade. Deixem-se de merdas, a idade assusta mas não mete medo. A lição? Com tanto para agarrar, porquê agarrar tão pouco? Com tanto para viver, porquê viver tão louco?

 

7? 18? 33? And what language is she talking? Portuguese? English? French? No. Age is, like life, polyglot. It speaks “lifish”. Every single day it speaks with the utmost diversity. It simply won’t keep quiet. It challenges every single day with “whys” that not even it knows why. Day after day. Month after month. Year after year. It happens every second. Timeless. Continuous. Age is the best age has.

It exists to be lived. To be celebrated. And us, what do we do? We spend our days “asleep”. Blind, deaf, mute, and “dumb”. “Entugados” and illiterate as if we had stopped in the Middle Ages. Yes, there are those grey days in which the sun doesn’t shine but, up there, it keeps on shining. That is why the value given to time is incomprehensible. The value given to age. The more it grows, the more it moves. It wins us over with its wrinkles, with her ”stories told in the lines marking our faces” and with its aura.

It makes us wiser. It doesn’t want ever to grow old, it wants to be a child, like a Picasso, and go by life step by step. Tired of the blah blah blah... more action and less poetry. The bandit’s and the attaché’s. Shut up and listen...!! Pay attention. Open your eyes. Oh… I’m too old for this, says Age every day. What is, then, the age of whys? Age doesn’t matter, it’s our truth that matters. Cut the crap, Age scares but doesn’t strike fear. The lesson? With so much up for grabs, why grab so little? With so much to live for, why live so little?
 

 

 

ALMOÇAR NO MODELO

 

Conta-se que naqueles primeiros anos de futeboladas no clube lá da terra, eram muitos os que não eram de lá. Havia as vantagens de ser, e as vantagens de não ser. Quem não era, saia mais cedo, mas tinha que ir a correr apanhar o autocarro. Quem era, tinha que ficar a “fazer chutos à baliza” mas tomava verdadeiros duches de emersão em água quente. Numa dessas longas e enriquecedoras sessões de banho, onde tudo se discutia e pouco se falava, ouve uma ideia que rompeu com o “status quo”, e hoje, 20 anos depois, é moda que veio para ficar. Basicamente, e consequência óbvia do contexto social e mental em que se vive, é hábito de famílias, namorados e amigos se deslocarem a uma recente área

de um supermercado para umas “fantásticas” refeições a baixo custo.

De Janeiro a Janeiro, desfruta-se em comunidade na cantina das cantigas. Mas, nem os “doces” são o pai da ideia e muito menos estão o a inovar. Num daqueles luxuosos banhos, e naquele dia particularmente, falava-se de miúdas. Giras, claro. Muito giras. Mais especificamente, de uma pequena loira roliça que parava a escola com o seu andar. Durante anos encantou os adolescentes sonhadores com o seu sorriso. Era conversa frequente, mas naquele dia, com a água quente a cair nos ombros, com a névoa que adensava o ambiente e perante o puro entusiasmo de um jovem encantado porque a tinha conhecido, ouve um outro que marcou os tempos e disse a alto e boa voz: BEM... (um momento de silêncio pairou com as caras que se viraram expectantes e a água que se transformava em vapor) ... almoçar no modelo é tão bom! A lição? Nem todos somos génios, nem todos somos loucos, mas ainda bem que há uns, que o são como poucos.

 

It was said that in those first years of football matches at the village’s club, many did not hail from there. There were advantages about being and advantages about not being from there. Those who were not would leave earlier but had to run to catch the bus. Those who were had to stay,

“kicking at the goal” but would take true immersion baths in hot water. On one of those long and enriching  bathing sessions, where everything was argued but nothing was talked about, there was

an idea that broke out the “status quo”, and today, 20 years later, it is a trend that is here to stay. Basically, an obvious consequence of the psychological and social context in which we live, it is

an habit of families, couples and friends go to a recent supermarket area for some “fantastic” low-cost meals. From January to January,a good time in the song’s canteen is enjoyed. But not even the “sweets” are the fathers of the idea, nor are they innovating it. In one of those luxurious baths, that day particularly, the subject was girls. Cute, of course. Very cute. More specifically, of a little plump blond that would bring the school to a standstill with her walk. For years she charmed the dreamy teenagers with her smile. It was a frequent topic, but on that day, hot water pouring over the shoulders, the mist thickening the environment and before the sheer excitement of a charmed young man who had met her, there was another one that mark the tempos and said out loud: WELL… (and a moment of silence hovered around the expectant faces turned and the water turned into steam)… having lunch at Modelo is so good! The lesson? Not all of us are geniuses, nor all of us are insane, but thankfully there are some of them who do it like no one else.

NEM TODOS TEMOS A MESMA LUA

 

“Nem todos gostamos de amarelo senão seriamos todos uns girassóis”.

Nem todos queremos ou desejamos as mesmas coisas. Nem todos somos lobos que uivam para a lua em sinal de admiração. E apesar de sermos todos reis dos nossos reinos, a determinada altura da vida percebe-se afinal que, não somos

o centro de uma galáxia e que não temos pequenos sistemas solares com planetas a girar à nossa volta. Normalmente, situações destas são provocadas por uma surpresa que a vida tem reservada. Uma mudança de emprego, um novo país, ou muito provavelmente, uma relação acabada ou iniciada. Desde muito cedo que olhamos para o céu e sonhamos com o infinito. Sonhamos com

o que está para lá dos nossos olhos. Passamos os dias a mandar pedras à Lua na esperança que um dia alguma fique lá. Até que crescemos e chega o dia em que alguma fica lá. E aí, somos heróis. Heróis de um país, de um amigo ou de uma criança. Heróis silenciosos sem medalhas, condecorações ou corações.

A lição? Se não acreditarmos que podemos ser heróis, seremos simplesmente pessoas normais sem saber até onde podemos ir, mas como nem todos temos

a mesma lua, nem todos queremos ser heróis.

 

Not all of us like yellow, otherwise we would all be sunflowers. Not all of us want or desire the same thing. Not all of us are wolves howling at the moon in an admiring sign. And even though we are all rulers of our kingdoms, at some point in life we figure that, after all, we are not epicentres of a galaxy, nor do we have mini solar systems with planets orbiting around us. Usually, these situations are prompted by the surprises that life has in store. A new job, a new country or, more likely, a relationship beginning or ending. From very early on we look to the sky and dream with the infinite. We dream with what is beyond our eyes. We spend days throwing rocks at the moon, hoping some day one of them stays there. Until we grow up and comes the day it stays there. And then, we are heroes. Heroes

of a country, of a friend, of a child. Silent heroes with no medals, commendations or hearts.

The lesson? If we don’t believe we can be heroes, we will simply be normal people not knowing how far we can go, but because not all of us have the same moon, not all of us want to be heroes.

 

 

 

ACHAS?

 

“- Se os gatos falassem, falavam que língua? - Oh pai, quem é te disse a ti que

os gatos não falam?” Respondeu a menina perante a pergunta. Uma pergunta inusitada, merecia de facto uma resposta ainda mais imaginada. As crianças sabem tudo, e se não sabem, inventam. Têm respostas na “ponta da língua”, como diriam as avós deste País. Portanto, o que será que responde uma menina de 5 anos, quando chega a uma nova escola no primeiro dia de aulas? O que será que responde quando ainda por cima, tem um braço engessado depois

de ter andado 15 dias com ele partido? (sim, é verdade, 15 dias no verão por entre mergulhos no mar e castelos na areia, sem sequer se queixar, sem dizer nem “ai” nem “ui”, e sorte das sortes, ele até já estava a calcificar no sitio certo)... O que será que responde quando, para além de ser o primeiro dia de aulas

e de ter o braço direito partido (ou seja, até aprendeu a escrever com

o esquerdo), também tem um corte de cabelo que passado alguns anos ainda

a marca ao ponto de não se poder sequer falar em cabeleireiros, e agora quase parecer uma “pocahontas”? O que será que responde essa jovem quando, para agravar tudo isto, ao seu lado, dezenas de jovens igualmente jovens, choram “baba e ranho” como se o mundo fosse acabar naquele preciso momento?

O que será que responde quando o pai, perante este cenário “dantesco”,

lhe pergunta muito a medo: “- Não vais chorar, pois não?” E foi aí, que a pequena pérola de cabelo cortado e braço partido, com um leve sorriso maroto

e um encolher de ombro corajoso, respondeu com um assertivo e confiante: “ACHAS...?!?” Obviamente que não. E não chorou, sorriu. Porque a vida

é simples como a sua resposta. Directa como a corrente de um rio.

A lição? “Se queres saber alguma coisa da vida, pergunta a uma criança, elas sabem tudo”.

 

“- If cats could talk, what would be their language? – “Oh dad, who told you cats don’t talk?” answered the little girl to the question. An unusual question did in fact deserve an even more imagined answer. Children know it all, and if they don’t, they will make it up. Their answers are “at the tip of their tongue” just like the grandfathers of this country would say. So, what would a 5 year old girl answer when

she arrives at the new school for the first day of classes? What would she answer when, on top of that, she has a casted arm after walking around with it broken for 15 days? (Yes, it’s true, 15 days through the summer in between dives in the sea, sand castles, without any complaints whatsoever and, with

a stroke of luck, it was calcifying on the right spot)… What will she answer when, not only it is her first day of classes and she has a broken right arm (meaning she even learnt how to write with her left hand), also has a haircut that years later still has such an impression on her to the point of not being able to talk to her about hairdressers and her hair resembling “Pocahontas”? What would that young lady say when, to aggravate it all, next to her, dozens of equally young people cry non-stop as if the world was to end at that precise moment? What would she answer to her dad when, before such

a hellish scenario he, somewhat tentatively, asks “you’re not going to cry, are you?” And then the little pearl, with the hair cut and broken arm, with a light and naughty smile and brave shoulder shrug, answered with an assertive and confident “YOU THINK…?!?” Of course not. She didn’t cry, she smiled. Because life was as simple as her answer. Direct like a river stream. The lesson? “If you want to know something about life, ask a child, they always know it all.”    
 

 

ENTUGAR

 

A arte de virar portuga. Conta a história (a passada, a presente e muito provavelmente a futura) que adquirindo uma certa idade, vivendo um certo conjunto de experiências e “objectivos”, ou crescendo com uns certos

e determinados conceitos sociais, o português vira portuga. Entuga. E quando esta expressão começa a sair das nossas cordas vocais, é sinal de entuganço.

O poder do entuganço é de tal forma grande que até consegue entugar gentes de outras “paragens”. Brasileiros, Romenos, Angolanos, muitos são os que

se rendem tal é a força. Uma força invisível, progressiva e imparável.

Como se estivesse implícito por uma figura, entidade ou governo que a vida tem uma ordem rígida e inflexível. Como se a vida fosse nascer, crescer, estudar,

aos 18 tirar a carta, aos 24 estarmos licenciados, uns anos mais tarde casados. Depois, vêm os filhos, a casa, o carro, e por fim quando olhamos para tudo...

o tudo, é nada. Vê-se à distancia que o nada está a chegar. A pele começa

a ficar pálida, os quilos começam a aumentar, a vida a “estabilizar”. Como se estabilidade fosse sinonimo de felicidade. Mas quem vendeu este sonho a um povo que há 500 anos ao olhar para trás viu uma terra cheia de “hermanos” furiosos e então decidiu olhar em frente e descobrir o desconhecido? Quem

é que foi que vendeu o sonho da casinha, e do carrinho, do “assim assim”,

do “mais ou menos”, do “a vida é assim”, do “coitadinho” e do querer só um “bocadinho”? Como se a vida fosse mesmo assim. Um pequeno e reduzido “inho”. Todos os dias são diferentes. SÃO. Um grande e gigante “ÃO”. Quem achar que tem dias iguais (para além de já ter entugado) anda distraído. E foi num desses dias, num almoço improvável com o “Tio” que ele sacou da melhor conselho de vida: “Não te deixes entugar”. A lição? O dia que entugares é o dia em que te começas a perder.

 

The art of becoming “Portuguese”. As the story goes (past, present and most likely the future one) acquiring a certain age, living a certain set of “experiences” and “goals”, or growing up with certain established social concepts, the Portuguese becomes a “portugue”. It “entugates”. And when this expression starts coming out of our vocal chords, it is a sign of “entugation”. The power of “entugation” is such that it can also “entugate” people from other “stops”. Brazilians, Romanians, Angolans, many are those who surrender, such is the force. An invisible, progressive and unstoppable force.

As if it were implicit by a figure, entity or government that life should follow a strict and inflexible order. As if life was to be born, grow up, study, getting a driving license at 18, having a college degree at 24, some years later being married. Then, it comes kids, house, car, and in the end, when we look at everything… everything is nothing. You can see from a distance the nothing is coming. Skin becomes pale, the kilograms increase, life is “stabilizing”. As if stability were a synonym of happiness. Who sold this dream to a nation who 500 years ago, looking back and finding a land full of angry “hermanos”, decided to look forward and discover the unknown? Who was the one who sold this dream of the little house, the little car, the “so-so”, the “more or less”, the “that’s the way life is”, the “poor thing” and wanting “just a little”? As if life were like that. A small and reduced “-itte”. Every day is different. IS.

A big, giant IS. Whomever thinks they have equal days (other than already having “entugated”)

is distracted. And it was on one of these days, in an unlikely lunch with the “Uncle” that he popped out the best life advice ever: “don’t let yourself entugate”. The lesson? The day in which you “entugate”

is the day you start losing yourself.

 

 

O HOMEM

 

O Homem é que sabe. É mais lei do que a lei da atracção do universo ou qualquer outra criada aqui na terra. Seja o assunto mulheres, futebol, cinema

e música, politica ou culinária, actualidade ou história de Portugal, viagens cá dentro ou viagens lá fora, ele, simplesmente sabe, conhece, já viu, já fez e está cá para contar a história. Um dengoso bailarino de tcha tcha tcha, um special one, um chef 3 estrelas michelin, um empresário de oportunidades, um filosofo

do povo, um artista, um artesão, um cidadão do mundo. Um pioneiro. Um louco tantas vezes incompreendido. Mas quem o conhece, sabe que é assim.

Se o mundo faz zig, o Homem faz zag. Se os homens se contentam, o Homem atenta, inventa e reinventa. Verdade seja dita, muitas vezes põe-se a jeito. Coloca-se em situações vulneráveis e de risco. Na sua maneira “curta e grossa” de ser, muitas vezes provoca interrogação, confronto e desafio a quem o rodeia. Mas seja de sapato de bico num pé e chinelo de dedo no outro, seja a cozinhar panelões de comida para muitos ou um prato gourmet para poucos, seja a filosofar acerca da cultura gastronómica de uns e da sexual de outros, a escolher o que a matilha come, bebe, veste, respira e transpira ou a escrever emocionado uma carta para recordar no restaurante do velho Ti João, seja a desligar

o telefone na cara das pessoas ou a “hablar” com desconhecidos numa ilha

do atlântico, ele simplesmente é assim. Sabe. E todos nós sabemos que ele sabe. Porque se tudo isto parece ironia, parece, mas não é. Porque em tudo

o que o Homem toca, tudo aquilo que diz, tudo o que constrói, cria ou avia, todos nós sabemos que vem com algo absolutamente único e que transforma o mundo das pessoas que o rodeiam: A total e extraordinária amizade. A incansável vontade de partilhar com os outros o melhor que a vida tem. A lição? Começa por mudar o teu mundo, porque sem querer, já estás a mudar o mundo

de alguém. “Gostamos de estar vivos”.

 

The man knows it. It’s more of a law than the law of attraction of the universe or any other created here on Earth. Be the subject women, football, cinema, music, politics, bakery, current affairs and Portuguese history, trips inside or outside, he, simply he, knows, understands, has seen, has done and is here to tell the tale. A caressing “cha cha cha” dancer, a special one, a 3 star Michelin Chef,

an entrepreneur of opportunities, a philosopher of the people, an artist, an artisan, a world citizen.

A pioneer. A madman so many times misunderstood. Those who know him, know that’s the way it is.

If the world zigs, the Man zags. If the men are contempt, the Man alerts, invents and reinvents.

Truth be told, many times he puts himself in that position. It puts himself in vulnerable and risky situations. In their “rough and tumble” way of being, many times if provokes interrogation, confrontation and challenges for those surrounding him. Whether with a fancy shoe on one foot and a flip-flop in the other, be it cooking on huge pans for many of a gourmet dish for few, be it philosophing about one’s gastronomic culture and sexual culture of others, choosing what the pack eats, drinks, dresses, breathes and sweats or emotionally writing a letter to remember the restaurant of good ol’ Uncle John, be it turning off the telephone on peoples’ faces or “hablando” with strangers in an Atlantic Island,

he is simply like that. He knows. And we all know he knows. If all this seems ironic, it seems, but it is not. Because whatever the Man touches, whatever it says, whatever it builds, creates and provides,

we all know it comes with something absolutely unique that transforms the world of people around him: total and remarkable friendship. The relentless will to share with others the best things in life.

The lesson? Begin by changing your own world because, unwillingly, you are already changing someone’s world. “We like to be alive”. Can you make it this far brother?

 

ERA UMA VEZ

 

Quem nunca leu uma daquelas “era uma vez...” num reino que nem é assim tão distante? Quem não gosta de folhear histórias reais que mais parecem saídas

de um livro de encantar? Quem não viveu reinos que estão tão perto que até conseguimos tocar? Quem não olhou para o céu brilhante num qualquer dia

de Outubro? Quem não conheceu princesas que sonham ser rainhas? Um dia alguém escreveu (sem saber muito bem porquê) que “todos somos reis e rainhas dos nossos pequenos grandes reinos.” Príncipes dos nossos palácios de betão, dos nossos coches de quatro rodas e das nossas valsas no alcatrão.

Uma realeza de sangue azul avermelhado. Putos inspirados e aspirados cheios

de manhas e manias, de “closets” e de “gadgets”. Nobres do século XXI com páginas escritas com o traço diário de uma pena e de um cursor. Ridiculamente sonhadores por natureza, só podem ser líricos com certeza. Andam com pequenos passos enigmáticos sem saber muito bem ao que vão. Como uma vez uma princesa que foi a um banquete lá para os lados de outro reino. Longe

de imaginar que na ementa havia tuperwares de sopa acabada de fazer, salada de queijo fresco, vinho tinto e dois copos para partilhar. Uma vela iluminava

os príncipes que ao longe viam a silhueta da cidade desenhada a luz

no horizonte. Sentados num banco de pedra e com uns candeeiros antigos

a iluminar, uma história ia ali começar. A lição? Se todos somos monárquicos,

se todos somos reis e rainhas dos nossos reinos, então porque é que insistimos em não reinar? Quem sabe talvez um dia.

 

Who of us has never read one of those “once upon a time...” stories set in a kingdom that is not so far away” ? Who doesn’t like flipping through real stories that look as if they’ve been lifted straight from

an (enchanting) fairytale book? Who hasn’t felt as if they were in in kingdoms so close that one can almost touch them? Who has not looked up at the bright sky on an October day? Who has never met princesses who dream of being queens? One day someone wrote (without really knowing why) that "we are all kings and queens of our great little kingdoms.” Princes of our concrete palaces,of our four wheel carriages and our waltzes on the tarmac. A reddish blue-blooded royalty. Inspired kids with aspirationsand many obsessions,  “closets” and “gadgets”. Nobles of  XXI with written pages with

a daily scribbled line of a pen and a cursor. Ridiculous dreamers by nature, they cannot be anything but lyrical. They walk with small, enigmatic steps without really knowing what they are doing. Just like

a princess who once went to a feast somewhere in another kingdom. Far away from imagining that the menu including freshly made soup in tupperware, cheese salad, red wine and two glasses to share.

A candle illuminated the princes who saw, in the distance, the city skyline etched with light on the horizon.Sitting on a stone bench and some old lamps lighting, a story was about to begin.The lesson? If we are all royalists, if we are all kings and queens of our kingdoms, then why do we not insist on reigning? Who knows, maybe one day we will. 
 

 

 

O PEIXINHO

 

Peixinhos Dourados. Quem nunca os teve ou gostava de ter tido?

São económicos, silenciosos e independentes (ou quase). Pequenos seres com uma esperança de vida quase tão curta quanto um mosquito. O animal de estimação perfeito para quem quer dar vida a uma casa sem mudar muito

a logística da coisa. E mais ainda na altura do fenómeno “Nemo”. Ter peixinhos era “cool” e o sonho de qualquer criança. Realizar os sonhos delas é tarefa

de todos nós. E foi com essa intenção que num belo dia de primavera,

um peixinho foi uma surpresa para uma “peixinha”. A miúda estava excitadíssima com o presente. Ao ver o saco plástico com o “douradinho” (sim dá-se logo nome e tudo) um sorriso inundava-lhe o rosto. Claro que seria necessário uma elaborada operação até o peixinho ser oficialmente um residente lá de casa.

Mas sabe-se que pai que é pai sabe que não há nada que a engenharia criativa de um pai não resolva. Passar do saco plástico para o aquário, pode até parecer um processo simples, mas não é. É necessário uma técnica apuradíssima.

O plano era simples: Primeiro, coloca-se a rede na sanita. Segundo, deita-se

a água do saco pela rede. Terceiro, a água escorre para a sanita. Quarto,

o peixinho fica na rede. Quinto, da rede o peixinho passa rapidamente para

o aquário. Feito. Limpinho como a água que já esperava o peixinho no aquário. Ou, talvez não. Não se equacionou que a força da água fosse tal que a rede se afundasse na sanita. Resultado? Peixinho a nadar na água da sanita. Até aqui é só estúpido, mas o que ainda hoje se está para perceber é, porque raio

o primeiro instinto foi carregar na descarga do autoclismo? A miúda estava incrédula com tanta estupidez junta e com um ar de espanto mas com um pequeno sorriso de gozo gritou bem alto: Oh Zulmira, o meu pai mandou

o peixinho pela sanita abaixo...!! A lição? Filha de peixe, mesmo que não queira ou não saiba, muitas vezes, vai ter mesmo que saber nadar.

 

Goldfish. Who hasn’t had one or would like to have had one?
They’re affordable, silent and (almost) independent. Small beings with a lifespan almost as short

as a mosquito. The perfect pet for those who want to bring life to a house without changing it too much. Even more so at the time of “the Nemo” phenomenon. Having little fishes was cool and the dream of any kid. It is our job to accomplish their dreams. In this sense, on a beautiful spring day,

a little fish was a surprise for a “little fish baby girl”. She was thrilled with the gift. When she saw the plastic bag with the “little golden one” (yes, we name everything) there was a big smile on her face.

Of course it was a complex procedure to make sure the little fish would officially be a resident at our place. But as we know a real dad knows how to be creative and handle anything. Moving the little fish from the plastic bag into the aquarium might look easy, but it’s not. A refined technique is required.
The plan was simple: First, you put a net on the toilet. Second, you drain the water of the bag through the net. Third, the water flows into the toilet. Fourth, the little fish is on the net. Fifth, from the net it is easy to put the little fish into the aquarium. Done. It’s a slam dunk. Well, maybe not. We haven´t thought that the water pressure could be so much that the net went down the toilet. What happened? Little fish swimming in the toilet water. It looks stupid, but what still strikes me the most is why the first thing that came to my mind was flushing the toilet? The girl was so incredulous with such level of stupidity and so surprised but with a small mocking smile she shouted: “Zulmira, my dad flushed the little fish down the toilet…” The lesson? The daughter of a fish will have to learn to swim, even if she doesn´t want to . (Like father, like son)

IRMANDADE DO BODO


A Irmandade é coisa recente, já o Bodo, foi criado no século XIII pela Rainha Santa Isabel como um gesto de partilha e compaixão ao distribuir comida

e roupa aos pobres em dia de festa. O que mal poderia imaginar a altruísta “Rainha Santa”, é que uns séculos mais tarde, fosse dar naquilo que deu.

Lá comida havia da melhor. Daquela que tem aquele ingrediente maravilhoso chamado carinho (ainda por cima dado pela mão carinhosa da Mãe Princesa).

Já roupa, nem por isso. Ainda a irmandade que não era irmandade estava em viagem e já rabos (uns com mais tufo do que outros) se mostravam ao vento, mamas (perfeitinhas por sinal) se manifestavam ao léu e pilas, coitadas, essas nem se chegaram bem a ver. Pelo meio umas rebaldarias aqui e ali, com sentidos meio trocados, bikinis deslocados e uns soutiens que deixaram os viajantes embasbacados. Épico? Seria? Só podia. É um facto, que ninguém poderia imaginar que uma Solange ficasse tão ofendida com um número de telefone,

táj a ver, ya? Assim como a Deolinda nunca pensou que ao abrir a sua grande boca abrisse também as hostilidades. A música continuou pop e as pombinhas todas top. O absolutamente incrível Pai Leiria (ou o ninja do Pombal como

é conhecido entre irmãos) impôs o ritmo e foi um ar que se lhe deu. Com a sua dança de ponta e pontaria, o seu parkour perfeito qual gato com 7 vidas e um adorável sprint em família numa das 357 pontes, túneis e viadutos que havia

no Pombalinho, a coisa só podia terminar numa alegre gritaria e uma chávena

de vinho. No dia seguinte o céu abriu cinzento como o fumo prometido dos “rateres”, o cheiro da sardinhada acordou irmãos, gatos, cães e o sol meio envergonhado lá abriu a pestana e deu um ar da sua graça. Como sempre disse o povo, “a piscina da vizinha é sempre melhor que a minha” (especialmente quando não se tem piscina)... Mero estágio para a libertinagem que ainda estava para vir. A querida rainha não queria partilha e compaixão? Ora então bora lá partilhar e “compaixar”. Partilhar choques atrás de choques nos carrinhos de outros tempos, partilhar danças “quem vêm de dentro” e flashes sem sentido nem tento. Com a buraka foi o buuumm e logo depois com a “damaia” foi só pum pum pum. Um “compaixar” de panikes marcou a noite. Literalmente. Ele havia para todos os gostos e sabores. Não havia deus grego que escapasse nem noiva que não fugisse (primas incluído)... dentadas e dentadas de panikes em noite de danças loucas, de loucos e selinhos espartilhados e partilhados por todos e aos poucos e poucos. Varas longas chiavam fininho como os tejadilhos dos carros que ainda se queixam e como aqueles que acordaram porque não são lá muito dados a “bodolhoquices”. Por fim, lá a irmã Natacha ordenou aos irmãos

a caminha porque até parecia que o mundo ia acabar, mas afinal ainda não era

o fim da linha. A lição? Irmão que é irmão, mesmo que pareça muito ridículo,

diz sempre que sim, jamais diz que não.

 

The Brotherhood is a recent thing, but Bodo was created in the XIII century by Queen Saint Isabel as

a gesture of sharing and compassion by distributing food and clothes to the poor on festive days. What the altruist “Queen Saint” could hardly imagine is that some centuries later, it would become

what it did.  The food was the best. With that wonderful ingredient called affection (on top made

by the sweet hand of the Princess Mother). But the clothes not so much. The brotherhood, which actually was not a brotherhood, was still on a journey when butts (some more hairy than others) were naked, tits (perfect ones by the way) were exposed and dicks, poor ones, one could hardly see them. There was a huge mess going on, bikinis out of place and some bras that left the travelers astonished. Epic? Was it? It had to be. It’s a fact, nobody could expect Solange to be so offended with a phone number, you see what I´m sayin´? Deolinda never thought that her big mouth would harm so much. Pop music was playing and the little doves were top. The incredible Father Leiria (aka Ninja of Pombal among his brothers) set the pace. With a top dance and his perfect parkour like a cat with seven lives and a great family sprint in one of the 357 bridges, tunnels and flyovers in Pombalinho, it had to end up in a joyful shouting and a glass of wine. The next day the sky opened up, gray as the smoke

in exhaust pipes of racing cars, the smell of fried fish woke up brothers, cats, dogs and the shy sun slowly opened up. As the saying goes, the swimming pool of  my neighbor is always better than mine…” (the grass is always greener on the other side). Just a warm up for what was about to come next. Didn´t the dear queen wish to share and to show compassion? Then, let us share and  show compassion (more passion). Share boom boom in cars from other times, dances “from the inside” and flashes without any sense or goal. With buraka it was buuum and right after with “damaia” it was just pum pum pum pum. “ Com(passion)” of panikes (a Portuguese brand of croissants) marked the night. Literally. All kinds of tastes. There was no Greek god who escaped nor a bride who had gotten away (including cousins)…bites and bites of panikes in a night with crazy dances, a crazy night with little tight kisses shared by everyone, little by little. Long sticks squeaking like the car roofs still complaining and like those who woke up because they did not like “uncleanness”. Finally, sister Natacha ordered the brothers to go to bed because it looked like it was the end of the world, but that was not yet the end. The lesson? A real brother, however ridiculous he may seem, always says yes, he never says no.

 

 

 

 

É DE PELE

 

A pele está na moda. É bipolar. Sim, só assim se explica porque há pessoas que simplesmente não se gramam e há pessoas que simplesmente se amam.

Só assim se explicam atracões platónicas, químicas supersónicas ou guerras napoleónicas. Aquela sensação estranha, aquele aperto no peito de que vamos ser amigos, amantes ou inimigos para o resto da vida. Podemos arranjar todas

as desculpas do mundo, podemos até olhar para o lado e assobiar, podemos encantar, bocejar, bloquear e tentar, mas muitas e tantas vezes, muito simplesmente, é de pele. “É de pele”. E quando é de pele, há pouco ou nada

a fazer. Todas as pessoas sabem e nem uma entende. Todas as pessoas sabem e nem uma mente. É impossível. É como um polígrafo que ninguém consegue enganar. Não adianta ignorar, baixar a pulsação ou queimar com carvão.

É intrínseca, transparente e imediata. O céu ou o inferno. Ou se ama ou se mata É por isso que todos os dias conhecemos pessoas que jamais nos lembramos

e todos os dias nos lembramos de pessoas que jamais nos esquecemos.

Mais uma vez, é de pele. O tempo não cura, não esquece e não muda. Quando

é de pele, minha nossa senhora, é a loucura. Dura, brutal, imoral, imortal e pura. É-se. Sabe-se. Cheira-se. Não se explica, sente-se. É sol de verão ou cicatriz

de inverno. Rugas de sorrir ou de chorar. Ou faz apetecer ou faz nem querer ver. Seja bronzeada, hidratada ou desgastada, a pele é não ou é sim, nunca “nim”. Ela é tudo menos equilibrada. É louca, cutânea e instantânea. Não há estilo, ambiente ou identidade. Não há pessoa que olhe nos olhos sem ver a verdade. Não há pessoa que mexa no ego sem enfrentar a realidade. Quando é de pele, todos sabem. Não há erro, ermo nem meio termo. Quando a pele ama é uma maluca. Quando a pele odeia é uma “puta”. A lição? “Cada pessoa que passa na nossa vida, nem nunca vai só, nem nunca nos deixa sós. Dure um segundo

ou um mundo, deixa sempre um pouco de si e leva sempre um pouco de nós.”

É de pele.

 

Skin has become fashionable. It´s bipolar. Yes, that´s how it can be explained why there are people who just don´t like each other and people who love each other. That´s how platonic love, supersonic chemicals or Napoleonic wars can be explained. That weird feeling, that tightness in chest that we will become friends, lovers or enemies forever. We can find all the excuses in the world, look to the side and whistle, we can enchant, yawn, block and try, but more often than not, quite simply, it´s made

of skin. “It´s ,made of skin”. And when it´s made of skin there is not much one can do. Everyone knows it and no one understands it. Everyone knows it and no one lies. It’s impossible. It’s like a polygraph

no one can cheat. It’s pointless ignoring it, lower the pulse rate or burn with coal. It is intrinsinc, transparent and immediate. Sky or hell. One either loves it or hates it. That is why every day we meet people we won´t ever remember again and every day we remember people we won´t ever forget again. Again, it is made of skin. Time does not heal, does not forget and does not change. When it is made of skin, oh my goodness, it´s pure madness. Hard, brutal, imoral, immortal and pure. It is.

You can tell. Smell. You can´t explain it, you feel it. It is summer sun or a winter scar. Wrinkles from smiling or crying. One either craves for it or doesn´t want to see it at all. Whether tanned, hydrated

or worn, when it is made of skin it is either no or yes, never “maybe”. It is anything but balanced.

It is crazy, dermal and instantaneous. There´s no style, environment or identity. There is no person who looks into the eyes without seeing the truth. There´s no person who touches the ego without facing

the reality. When it is made of skin, everyone knows. There is no mistake, wilderness or middle ground. When the skin loves, it is crazy. When it hates it´s a “bitch”. The lesson? “Each person we´ve crossed paths with, will never walk way alone or leave us alone. Whether it lasts one second or an eternity,

the person will always leave a bit of herself and take a bit from us.” It is made of skin.

 

A VIDA É UM CONTO DE FADAS


Se é, porque trovão os contos para crianças, são tudo menos para crianças? Quando éramos pequenos pequeninos, todos ouvimos aquelas histórias infantis incrivelmente trágicas. Todos elas, supostamente, com alguma lição a tirar. Segundo o ópio do nosso querido amigo Freud e a sua “psicanálise dos contos de fadas”, os contos, são o primeiro contacto na vida das crianças com conceitos básicos de humanidade e com o significado existencial da vida. Ok, se são, nunca os deveríamos ter deixar de ler. Anda para aí muito adulto sem rumo

e com muito fumo. São provavelmente, os filhos de pais adúlteros culturalmente. Aqueles pais negligentes, que por medo que as criancinhas desatassem num berreiro com a possibilidade de abandono, ou que a mãe morresse com um tiro de caçadeira, ou que ainda pior, fossem misteriosamente envenenadas por bruxas malvadas, privaram-nas para todo o sempre de bases comportamentais, sociais e mentais. Pronto, o mundo está explicado. Quem na sua inocência, ouviu do principio ao fim, aguentando em agonia, chorando baba e ranho e sonhando com lobos, irmãs malvadas e rainhas más, está no caminho certo. Quem foi enganado, e segundo o senso da comunidade, está condenado, desalinhado

e destravado. E só está, porque na realidade os contos de fadas, estão muito mais presentes e entranhados na nossa vida do que aquilo que imaginamos. Basta pensar na procura incessante de “príncipes em cavalos brancos”,

dos nossos “castelos encantados”, da utopia do “viver feliz para sempre”,

dos “bailes monumentais” ou do “nunca chegar tarde a casa”, para percebemos, que os contos refletem a nossa procura incansável. A nossa eterna insatisfação.
Ou talvez não. Não serão antes esses conceitos (ou preconceitos) que nos “venderam” quando tínhamos olhos do tamanho de luas e cérebros que nem esponjas do mar, que nos estão a condicionar as possibilidades? Será que por acaso alguém já questionou o que aconteceu há Bela Adormecida depois

de tantos anos a dormir? De certeza que o corpinho está flácido com tantos anos sem se mexer. E a Cinderela? Será que não teve que fazer uma limpeza de vez em quando? Viveram na imundice ou tinham empregados para tudo?

E a Branca de Neve com os seus anões? Sim, o príncipe veio, mas nunca discutiram? Concordaram sempre com tudo? Impossível. Quem sabe a história da egocêntrica Branca de Neve, sabe que não pode ter sido bem assim.

Basta ver as que ainda andam por aí. Controladoras, castradoras

e manipuladoras. Não deixando os anões crescerem com medo que algum lhe roube o palácio. Tirando-lhes a decisão, infantilizando a ação com subjetividade e omissão. “Na lenda eles eram sete, mas hoje nas empresas das Brancas

de Neve, há rezingões às dezenas e sonecas às centenas”. A lição? A vida

é de facto um conto de fadas, de Brancas de Neve e de anões. Mas somos nós que escolhemos se queremos ser heróis ou vilões.

 

If that´s right, then why the heck are children’s fairytales far from being for children? When we were children we all heard those incredibly tragic children´s stories. All of them supposedly with some lesson to be learned. According to the opium of our dear friend Freud and his “psychoanalysis of fairy tales”, fairy tales, are the first contact in children´s lives with basic concepts of humanity and the existencial meaning of life. If it is so, we should have never stopped reading them. There are lots

of adults walking aimlessly and very confused. They are probably the sons of adulterer parents.

Those careless parents, who, fearing that the children would start screaming because of the chance

of abandonment, or that the mother would die because of a gunshot, or worse, that they were mysteriously poisoned by evil witches, deprived them forever from behavioral, social and mental bases. Those, in their innocence, who heard stories from beginning to end, in agony, crying a lot and dreaming of wolves, evil sisters and bad queens are on the right track. Those who were deceived, according to common sense are condemned, scruffy and crazy. That is because fairy tales are actually much more present and rooted in our lives that we can imagine. Just think of the endless quest of “prince in white horses”, our “enchanted castles”, the utopia of living happily ever after”,

the monumental dances”, or the “never come home late”, in order to understand that the fairy tales reflect our relentless pursuit. Our eternal dissatisfaction. Or maybe not. Would it not be these concepts or (prejudices) that they “sold” us when our eyes were as big as the moon and brains like sea sponges, rather, that are undermining our possibilities? Has anyone ever questioned himself what happened to the Sleeping Beauty after so many years of sleep? I am sure that her body is flaccid after so many years of inactivity. What about Cinderela? Hasn´t she had to clean from time to time?

They lived in filthiness or had servants for everything? What about Snow White and the seven dwarfs? Yes, the prince came, but have they never argued? They always agreed on everything?

That´s impossible. Anyone who knows the story of the self-centered Snow White, knows that that was not the case. Just look at the Snow Beauties walking around out there. Controlling, castrating and manipulative. Not letting the dwarfs growing up afraid that one of them might steal the palace from her. Taking away their decision, infantilizing the action with  subjectivity and omission. “In the fairy tale they were seven, but nowadays in the companies of Snow Beauties, there are plenty of grouchy and lazy dwarfs”. The lesson? Life is indeed a fairy tale of Snow Beauties and dwarfs. But we get to choose whether we want to be the heroes or villains.
 

 



 

 

 

FESTAS DE NATAL

 

Quem nunca foi a uma festa de natal numa escola primária? Provavelmente, não há alminha que não tenha experimentado tal emoção. Até porque em tempos, já fez parte delas. É daqueles momentos “obrigatórios” pelo qual vale a pena viver. Também é daqueles que às vezes, até que dispensávamos fazer. Primeiro, assiste-se a semanas de corrupio por parte dos pequenos atores. Os níveis de ansiedade aumentam consideravelmente com o aproximar do dia, e ainda mais com o aproximar da hora, atingindo proporções epicamente ridículas, nos momentos que antecedem o espetáculo. Pais, avós, tios, primos, cunhados, amigos e conhecidos encavalitam-se na plateia. As máquinas procuram o melhor ângulo. Depois dos discursos pedagógicos por parte do corpo docente, o pano abre e faz-se dia. Qual Brad Pitt ou Angelina Jolie, aqueles pequenos seres, parecem estrelas de cinema numa passadeira vermelha tal é a intensidade

do barulho das luzes. Os seus olhos piscam freneticamente com a frequência dos consecutivos flashes que lhes queimam as vistas. “João! Manel! Maria! Pedro! Carolina! Raquel...!!! Aqui, aqui, aqui. Olha, olha, a mãe está aqui e trouxe o Xavier. Tomás, está a aqui a prima. António, o pai já chegou!!!” É a loucura.

A loucura total. O caos. Mas por fim, os sorrisos lá se encontram e as criancinhas lá se tranquilizam. Ou não, Porque imediatamente a seguir, dá-se inicio às hostilidades. Festa que é festa, começa com uma música cantada em coro por todos. Ou só por alguns. Porque se uns mal cantam, outros mais distraídos ainda vagueiam pela plateia à procura dos seus e dos outros. Uma das conclusões que se tira é que nenhum pai ou familiar consegue perceber ou ver verdadeiramente o espetáculo. A sua visão está totalmente direcionada para o que o seu mais que tudo está a fazer. Se está a rir, a cantar, a chorar ou a amuar.  “Canta Filho!!”

ou “Ó querida fala mais alto!!!”, ou mesmo “Ri-te amor...!!!“. Só apontamentos maravilhosos dignos do melhor ponto. Com o decorrer do evento, sucedem-se

os mini teatros, os textos decorados sem perceberem patavina do que estão

a dizer e que só os papás babados vão entender porque os ajudaram entusiasticamente a ensaiar. No final, todos têm direito a ovações épicas dignas de “Bravo” “Bravo”. Que orgulho e emoção com o que o seu menino acabou

de fazer. E a criança, coitada, lá vai aliviada com um sorriso de quem só pretende agradar aos pais. A lição? Seja todos os dias, quando um homem quiser ou só quando há festas como esta, o Natal, é sempre uma festa.

 

Who has never been to a Christmas party in a primary school? Probably everyone has experienced such thing. Because in the not so distant past, we all participated in it. It is a “must”, a moment worth living. On the other side, sometimes we feel we could have passed on that. Firstly, we notice that the little actors have very busy weeks. Anxiety levels are greatly increased with the approach of the day, and even more with the approach of the hour, reaching ridiculously epic proportions, right before the show. Parents, grandparents, uncles, cousins, in-laws, friends and acquaintances take their seats in

a packed audience. The cameras look for the best angles. After the pedagogical speeches from the teaching staff, the curtain opens and voilá. Like Qual Brad Pitt or Angelina Jolie, those little beings look like movie stars on a red light carpet, such is the noise and light intensity. Their eyes blink frantically with the frequency of the consecutive flashes on their eyesights.“João! Manel! Maria! Pedro! Carolina! Raquel...!!! Here, here, here. Look, look, mom´s here and Xavier came as well. Tomás, the cousin

is here. António, dad just got here!!!”. It’s insane. Pure madness. But finally, there are smiles and the kids become calm. Or maybe not, because right after, there are tough times ahead. A real party calls for a song called in chorus by all. Or by some. Because some of them are bad singers, the others distracted by the audience are still roaming around looking for their people. One of the conclusions that can be drawn is that no father or relative can understand or truly watch the show. They can only truly focus on what their most beloved one is doing. If he is smiling, singing, crying or sulking.

“Sing Son!!” or “My dear, speak louder!!!”, or “Smile my love...!!!“. Wonderful remarks, the finest tones. As the show goes on, the mini theaters just keep coming, the memorized scripts without any understanding of what they are saying, which only the proud parents will have understood as they helped them enthusiastically in the rehearsals. At the end, they all deserve standing ovations with “Bravo” “Bravo”. They are so proud and excited about what their kids just did. And the kids, poor kids, walk out with a relieved smile of someone who only intends to please their parents. The lesson?

It can be every day, when a man wants, or only when there are parties like this one, but Christmas

is always a party.

6ª FEIRA

 

Quem nunca foi a um supermercado com fome, que levante o braço? Ok. Pode baixar. Uma 6ª feira é igual. Rapidamente, e impulsivamente, tomamos decisões que com certeza não vão ser as melhores, mas ninguém disse que são erradas. A vontade é tanta de saciar o apetite causado pela angustia da semana, que se perde completamente o filtro e o feltro. Tudo passa e nada pega. Quer seja por libertação ou cansaço, a 6ª feira é poderosa. Muito poderosa mesmo. É o dia pelo qual nós, “mamíferos humanos” ativos (e menos ativos) mais ansiamos.

Só isto é sinal de poder. E como dizem os poderosos: “Com um grande poder vem uma grande responsabilidade.” Nenhum outro dia é mais esperado, desejado, apetecido ou cobiçado. É o fim do caos e o principio do eros.

Eros esse, que como deus apaixonado que era, ignorava o senso e o bom senso. Tal e qual a insensata e irresistível 6ª feira. Claro que ocasionalmente e por alguma razão, anseia-se por uma quarta, ou por um sábado, vá, às vezes até por uma segunda para ouvir cantar o fado. Mas por nenhuma razão em particular, nenhum dia é mais aguardado que a 6ª feira. Seja ela a 13 do azar, a santa que, pronto, é santa e se é santa, é santa, ou a de lua cheia que altera e faz uivar (literalmente). E foi numa épica 6ª feira de Primavera que depois de mais uma semana de cargas, descargas e trabalho, o Homem lá desatinou dois ingénuos rapazinhos para uma noite de cinema alternativo. Claramente, nada experimentados nesta coisa da magia da 6ª feira, os inocentes miúdos alinharam. Pensavam eles que tudo acabaria com o The End. Mal sabiam que ainda estavam nas apresentações. O mais sénior, e por isso mais sábio na sexta arte

e ainda não estando totalmente agradado com a experiência humana vinda

da terra do Madiba, lá conseguiu convencer os dois velhos jovens a irem bailar asta el Bairro más alto. Eles não queriam. Queriam ir dormir, estavam cansados. Mas como em qualquer 6ª feira, a emoção vence a razão. E de novo, lá foram eles todos juntos: a 6ª feira, a emoção, dois putos e um padrinho. Chegaram

às alturas e às loucuras, ouvia-se música às escuras e também havia vários tipos

de securas. No meio da pista, os pequenos contrariados encontraram um outro filme. Aquele que normalmente dá origem a tantas e tantas histórias. Como

as histórias de Allende, Neruda ou Hemingway. Principalmente, e como tão bem estes senhores sabem, quando há mojitos nesse meio. Enquanto ao balcão

o ancião lançava charme, os petizes, com a famosa bebida da bodeguita del medio em punho, lançavam-se aos olés. Um dos afilhados fez-se rei nessa 6ª feira e viveu feliz para sempre no seu castelo de príncipes e princesas. O outro, bom, o outro ficou pelo Dom. A lição?  A lição da velha sapiência popular “não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”. Especialmente se for 6ª feira.

 

Raise your arm: who has ever gone to a supermarket hungry,? OK. You can put it down. A typical Friday is the same. Quickly and eagerly, we make decisions surely won’t be the best, but nobody said they’d be wrong. Such is the will to quench the appetite caused by the week’s anguish one completely loses both his filter and his felt. Everything passes by and nothing sticks. Be it liberation or fatigue, Friday is powerful. Very powerful indeed. It is the day which us, “human mammals” active (and not so active) crave for. This, alone, is a sign of power. And as the powerful say “with great power comes great responsibility”. No other day is more anticipated, wished for, desired for or coveted. It is the end of Chaos and beginning of Eros. Eros which, as the passionate god it was, ignores both sense and good judgement. Just like the unwise and irresistible Friday. Of course, on occasion and for some reason, we crave for a Wednesday, or a Saturday, sometimes even a Monday to listen some fado being sung. But for no particular reason no day is more awaited than Friday. Be it unlucky 13, the holy that, if it is holy, it is holy, or the one of the full moon, that alters and makes one howl (literally).

And it was on an epic spring Friday that, after another week of loading, unloading and working,

the Man sillied two credulous young boys for a night of alternative cinema. Clearly lacking experience over this magic Friday thing, the innocent kids went along. They thought it would all finish with

“The End”. Little did they know they were still in the introductory phase. The senior, therefore wiser

on the sixth art and yet to be fully pleased with the human experience from the land of Madiba, finally convinced the two old youngsters to go dance to the highest of boroughs. They did not want to.

They wanted to sleep, they were tired. But like any other Friday, emotion defeats reason. And, again, away they when all together: Friday, emotion, two chaps and a godfather. They arrived to the heights and crazes, music heard in the dark, with multiple kinds of dryness. In the middle of the dancefloor, those upset youngsters found another movie. One of those normally originating many and many stories. Like the stories of Allende, Neruda or Hemingway. Mainly, and as these gentlemen are well aware, when there are mojitos in that environment. Meanwhile, at the counter the elder cast his charm, the little kids, with the famous “bodeguita del medio” beverage in hand, threw themselves to the “oles”. One of the godsons became king that Friday and lived happily ever after in his castle of princes and princesses. The other, well, he remained a Don. The lesson? The less of old populer wisdom

“don’t leave for tomorrow what can be done today”. Specially if it is a Friday.
 

 


 

 

 

O ÁLCOOL

 

Existe uma incrível semelhança entre o estado alcoólico e o estado de plena felicidade. Uma afirmação que assim à primeira vista parece um pouco absurda, mas não tem nenhuma intenção de ser controversa e muito menos apelativa

de excessos. Há obviamente uma dependência inerente, e que é tudo menos feliz. Mas na verdade, a felicidade é absurda, inebriante, intoxicante, viciante

e corajosa. Desinibe até a alma mais tímida. Aumenta as possibilidades

e as disparidades. Estar feliz é como ser dono do mundo. Alguma semelhança com o álcool? Pois. Nesses felizes dias ou noites, com o frenesim

de acontecimentos que o nosso metabolismo vai assimilando (ou ensopando) devido ao Sr. dito cujo álcool, a desinibição vem nitidamente ao de cima. Soltam-se emoções. Reina o ID sobre o Ego. Fala-se qualquer língua ou nem é preciso sequer falar, a linguagem do corpo diz tudo, o corpo diz tudo.

Os olhos falam que nem matracas e nunca passariam num detector de mentiras. O mundo fica à distancia de um palmo. Escala-se qualquer montanha, andaime ou telhado por mais alto que seja. Aproximam-se os opostos, tão perto que a palavra perto deixa de fazer sentido. E com sentido, os sentidos despertam.

E assim como o álcool, a felicidade gosta de nos dar uns valentes pares de estalos. Quem nunca só percebeu que estava completamente bêbedo até se levantar? Basta sentarmo-nos a apreciar a felicidade achando que tudo vem ter connosco e que somos os maiores e pumba. Par de estalos. E não serão os desgostos, as desilusões e as desmotivações, a ressaca da vida? Estar infeliz, não será quase igual a estar de ressaca? Fisiologicamente, se não é, é muito parecido. Trememos, não comemos, encolhemos e mal nos vemos. Quem nunca acordou um dia a dizer coisas como: “nunca mais bebo”, “estou de rastos”, “estou que nem posso” ou o já clássico “aquele último café deu cabo de mim”? Alguém? Mais uma vez, pois. São dias violentos. Acordamos e a vida parece um carrossel. Tudo a andar à volta, ou pelo menos o nosso pequeno tudo. É violento. Assim como o grande responsável por tal violência: o álcool. Esse ser bruto

e irascível que provocado, é como um leão esfomeado à solta numa jaula com gazelas indefesas. É a devastação total. Excepto quando a lua está cheia, aí já a última rodada é muita desejada. Porque “quando a lua está cheia, pode-se beber à vontade que não se fica de ressaca”. Mas também, assim como o álcool,

a felicidade deve ser comedida e moderada. E porquê? Para darmos valor

às valentes bebedeiras de vida que apanhamos. Se estivéssemos num constante estado de felicidade, qual seria a piada? Sabe muito melhor quando aparece vinda sabe-se lá de onde. Do nada, quando damos por nós já estamos felizes.

E bêbados. A lição? “A felicidade é uma maluca que sabe quanto vale um beijo”. Acreditemos, o Palma sabe o que diz. 

 

There is a remarkable resemblance between the alcoholic state and the state of pure joy.

Such a statement out of the blue may seem a bit absurd, but it has no intention on being controversial and even less an appeal to excess. There is obviously an inherent dependency that is everything but happy. But, truth be told, the happiness is absurd, heady, intoxicating, addicting and brave.

It uninhibited even the shyest of souls. It increases odds and disparities. Being happy is like owning the world. Any semblance with alcohol? Yup. On those happy days or nights, with the frenzy of events that our metabolism is assimilating (or soaking) due to Mr. So-Called Alcohol, the lack of inhibition comes clearly to the surface. Emotions are loose, Id rules over Ego. Any language is spoken or it isn’t even required to speak, the body language says it all, the body says it all. Eyes talk like they are rattling and would never pass a lie detector. The world is within a palm’s distance. Any mountain, scaffold or rooftop is climbed, no matter how tall they are. Opposites come closer, so close that the world “close” doesn’t even make sense any more. And with a purpose, the senses awake. And just like alcohol, happiness likes to give some really hard slaps across the face. Who has never realized they were totally drunk right until they tried to stand up? All it takes is for us to seat and enjoy the happiness thinking everything will come to us, that we are the best and “bang”. Slaps. And aren’t the heartbreaks, disappointment and discouragements, the hangover of life? Being unhappy isn’t it almost equal

to being with a hangover? Physiologically, if it is not, it’s really close. We tremble, we don’t eat, we shrink into barely watching ourselves. Who has never woken up one day mumbling things like:

“I’ll never drink again”, “I’m on my knees”, “I can’t stand it” or the already classic “that last coffee wrecked me”? Anyone? Once again, of course. They are violent days. We wake and our life feels like

a merry go-round. Everything spinning around, or at least our little everything. It is vicious. As is the big responsibility for that violence: alcohol. That rough and irascible being, when provoked is like

a starving lion, on the loose in a cage with defenseless gazelles. Total devastation. Safe for when the moon is full, then the final round is much sought after. Because “when the moon is full, we can drink

at will because there is no hangovers”. But still, just like alcohol, happiness must be measured and cautious. Why? So that we can appreciate the huge drunkenness of life we catch. If we were in

a permanent state of happiness, where would the fun be? It feels so much better coming out of nowhere. Out of the blue, when we notice, we’re already happy. And drunk.

The lesson? “Happiness is a maniac who knows how much a kiss is worth”. Let us believe, Palma knows what he’s saying.

 

 

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